terça-feira, 1 de setembro de 2009

Quando o conceitual ganha forma


Para muitos, a palavra "conceitual" é tão abstrata quanto o sentido que ela carrega. Admito, é um pouco difícil de compreender, e muita gente emprega o conceito (olha ele aí!) indiscriminadamente. Na moda, o conceitual é aquilo que foge do lugar-comum, que traz consigo uma marca muito pessoal do seu criador e, principalmente, que permite a inclusão do caráter artístico, suplantando o caráter prático. Basta olhar os desfiles (que, segundo João Braga, um dos maiores estudiosos brasileiros da moda, não são de moda, mas sim de estilo) para compreender. Quem não é do meio olha torto e ri das roupas que jamais serão usadas no dia-a-dia. Pensando na figura do conceitual, entendemos que os desfiles são na verdade uma transmissão de ideias e de propostas, que mais tarde podem ou não se transformar em moda, ou seja, em roupas "de verdade", dependendo se atendem ou não o desejo do público. Uma das cenas que mais me chamaram atenção no blockbuster "O diabo veste Prada" é aquela em que Anne Hathaway (Andrea) ri de Meryl Strip (Miranda) quando ela fica em dúvida entre duas peças aparentemente de cores iguais. Miranda dá uma aula sobre como uma simples escolha de cor por um grande estilista vai influenciar toda a cadeia produtiva. O que era conceito na cabeça do estilista chega até o casaco da grande magazine que você está usando (foi o que Miranda disse a Andrea, em resumo).
Eu sei, estou prolixa hoje, mas é que venho estudando (e me interessando) pelo assunto e acho legal compartilhar. Na verdade estou filosofando sobre o conceitual para falar do designer de joias niteroiense Virgilio Bahde (não venham me chamar de provinciana, Niterói tem mesmo muitos talentos). Quando vi suas peças pela primeira vez vi ali um verdadeiro trabalho autoral, no sentido da originalidade. Conheço alguns jovens designers de joias, de muito talento, é preciso ressaltar, mas que ainda estão muito influenciados por seus mestres ou presos à estética que vem do lugar-comum e do comercial (tá bom, não se pode ignorar o lado comercial, mas não se pode ficar preso somente a ele). Vou repetir: os "não-introduzidos" podem achar diferente, estranho até. Isso até você ler o texto de apresentação do site de Virgilio Bahde (http://www.virgiliobahde.com.br/). Conhecendo suas propostas, fica fácil perceber o significado contido em cada peça.
Em sua última coleção (de arte-joalheria, como ele mesmo define), Bahde tratou de três temas essenciais: a delicadeza estelar da alma feminina, em que as peças contêm "pontos luminosos de uma constelação que emana no interior do objeto, numa quase escultura jóia"; o êxtase do poder, com seixos e lâminas trabalhados numa estrutura primitiva; e as fitas em metais, com as quais busca a expressão do fluir dos movimentos. Se a leitura for árida, basta olhar as joias de Bahde para entender o que o artista quer transmitir. E aqui neste post estão alguns de seus trabalhos, feitos em ouro, prata e couro.
O talento de Virgilio Bahde já foi percebido por gente de muito bom gosto: suas peças estão à venda exclusivamente na multimarcas Dona Coisa, que vende também criações de Lino Villaventura e Glória Coelho, entre outros estilistas de renome. Seu ateliê, sorte a minha, fica em Niterói.

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